segunda-feira, 22 de maio de 2017

A lista dos brothers do Municipal


um grupo de jovens, “hippies”, desempregados, estudantes, músicos, malucos,  intelectuais  e  baderneiros, nos encontrávamos freqüentemente nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, para troca de informações, distribuir convites para encontros, passeios, shows, acampamentos, bailes rastafári, empréstimos de livros e discos, festivais de música ou até para fumar um baseado! “



Numa  manhã de  setembro, os raios do sol brilhantes penetravam pela porta da cozinha da nossa casa e nos aquecia enquanto uma brisa suave vinda dos mares beijava nossos rostos,  no momento em que  tomávamos nosso café da manhã, saboreando  um delicioso angu doce, enriquecido com  leite de coco, cravo, canela e castanhas de caju, eu, contava  a  Claudinha, sobre uma das fases da minha juventude vivida na cidade de São Paulo, nos anos de chumbo da ditadura Militar de 1964, onde, juntamente com um grupo de jovens, “hippies”, desempregados, estudantes, músicos, malucos,  intelectuais  e  baderneiros, nos encontrávamos freqüentemente nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, para troca de informações, distribuir convites para encontros,passeios,shows, acampamentos, bailes rastafári, empréstimos de livros e discos, festivais de música ou até para fumar um baseado!


Era um grupo de jovens da periferia de São Paulo, oriundos de vários estados do Brasil, politizados, românticos, sonhadores, rebeldes, adeptos da paz, da liberdade e do   amor livre, insurgentes contra os costumes da época, e os padrões de comportamento, impostos pela Ditadura Militar e as tradições  familiares  da velharada burguesa, hipócritas e reacionárias que dão sustentação ao corrupto, desumano, cruel e sanguinário, sistema capitalista.


Vivíamos um clima de terror, uma sociedade vigiada, militarizada, como se estivéssemos num “Big brother”.Eram proibidas todas as formas de manifestações de  liberdade de expressão, filmes, novelas, peças teatrais, músicas, livros, jornais e revistas  censurados ou apreendidos. Muitos dos nossos heróis, artistas, cantores, políticos,  ou intelectuais, foram banidos do País, alguns presos nos porões da Ditadura militar e outros mortos, ou suicidas, pelas torturas físicas e psicológicas  sofridas, mortos por  overdoses, ou desaparecidos.


O Mundo chocado com os horrores da Guerra do Vietnam, onde milhares de jovens foram mortos, ou tiveram seus corpos  mutilados, gerando  uma tomada de consciência mundial da juventude, em favor da paz, do amor livre,  e de rebelar-se, contra a cultura e o modo de vida nas grandes metrópoles capitalistas, que ficou conhecido como o Movimento “Undergroud”, ou “Contracultura’ organizando-se em comunidades afastadas dos grandes centros, e praticando uma vida solidária, coletiva, voltada para os valores espirituais, transcendentais, livres, desatreladas das “amarras” das engrenagens da sociedade de consumo burguesa, e em comunhão com a natureza.


Nossa geração lia muitos livros, jornais e revistas, que eram proibidos pela ditadura, mas, que sempre encontrávamos um jeito para consegui-los, na livrarias Sebos. “O Capital”, do Karl Max e “O que fazer”  e “Esquerdismo, doença infantil do comunismo” do Lennin; “O Principe”  de  Maquiavel; “A tradição da família, da propriedade  privada e do estado”, de Engels; “Materialismo Histórico e materialismo dialético”  de Stálin; A  ilha, de Fernando Morais e  as obras do Granmisci, Krisnamurt, Herman Hesse, Carlos Drumonnd de Andrade, Manuel Bandeira, Jorge Amado, Thiago de Melo, Clarice Lispector e Antonio Calado eram as nossas preferidas.

Circulavam alguns jornalzinhos alternativos que publicavam letras de músicas e noticias dos nossos artistas preferidos e alguns comentários sobre política, sendo os mais lidos, “O Rollings stones”,  “O Bondinho”, “ O Pasquim’, “Opinião”, “Versus”, “Movimento”, “Crítica”, “Osibisas”  e  “Flor do mal”.



Assim como ficou eternizada na bela canção gravada pelos  “Incriveis”, nossa geração curtia e ainda curte os Beatles  e os Rollings  Stones”, Bob Marley, Bee Gees, Led Zepelin, Bob Dylon, Ravi Shankar, Jimi Hendrix,  Erick Clepton, Jani Joplin, Kim Morrisson, Edson Gomes, Elis Regina, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso,Maria Bethania, Gilberto Gil, Gerado Vandré, Gonzaguinha, Clara Nunes e  outros artistas nacionais.


Hoje, passados mais de  quarenta anos vou tentar fazer uma lista desses amigos   e  brothers das escadarias do Teatro Municipal   de   São Paulo e verificar quantos deles ainda mantenho contatos: Começo citando o saudoso Anarquista  e trotskista Ivan Carvalho, meu companheiro do Curso Anglo-latino, nos anos 70, onde estava me preparando para prestar vestibular de jornalismo. Foi o Ivan com a sua grande liderança que me apresentou a vários amigos e recrutou-me para participar das lutas pelas liberdades democráticas no nosso País durante a Ditadura Militar de 1964.


Através do Ivan carvalho, comecei a freqüentar o “point” de encontro dos brothers do Teatro Municipal   e  fiz amizades com as irmãs, Ethel, LilIan Teles e  Najla Corazza; o Bedê,  e  o gordo Carlos Martins, moradores da Vila Carrão; Rita, Yalê, Salete, as irmãs gêmeas, o Caco, Naldinho, Saminho, Ramatis Jacinto, Carmo Rodrigues Aquino, Paulista, Góes, Jacques, Nelsinho  e  as  irmãs Rosa Sá   e  Dalva Sá Barreto.

Por meio da internet, via facebook, consegui contactar-me com cinco desses amigos, tendo dois deles me excluido posteriormente. Restaram apenas  as  irmãs Dalva Sá Barreto, que reside há trinta anos na Itália, e a Socióloga Rosa Sá, que reside em São Paulo, foi  ela quem  me falou pelo celular sobre a morte dos amigos Saminho, Nelsinho, Carmo Rodrigues Aquino e  Ivan Carvalho, seu ex-esposo.

Escrito por Cláudio Lima

Café com Claudinha – Recordações de 40 anos de militancia

Fotos/Imagens: Arquivo Google


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